1 de outubro de 2008
Apresentação do Trabalho
Este trabalho visa comparar as propostas de dois arquitetos, Otto Wagner e Lúcio Costa, para as cidades de Viena e Brasília, respectivamente, sendo que no primeiro caso, era uma proposta de restauração e modificação da cidade para a melhor adaptação à vida moderna, proposta vencedora de concurso, mas não implementada, e no segundo caso, a proposta da construção da capital do Brasil, que deveria representar a tecnologia, a modernidade e a eficiência de uma administração. Essa temática foi abordada a partir da comparação subconsciente, gerada ao se ler parte do texto Die Grosstadt, de O. Wagner, entre um novo bairro que seria construído em Viena e entre Brasília. O ensaio, Die Grosstadt, foi escrito vinte anos após o concurso para o Plano de Viena, em 1911, e propõe, ente outros assuntos, a construção desse novo bairro, que seria praticamente uma nova cidade unida à Viena. Através dos planos regularizadores dessa cidade nova que se uniria a Viena é que as comparações com Brasília serão realizadas.
Citações e Referências
1 Wagner , 1912 apud REVISTA DE ARQUITECTURA, Navarra – RA, 1999, p.562 RA, 1999, p.543 ibid.4 Wagner , 1912 apud REVISTA DE ARQUITECTURA, Navarra – RA, 1999, p.555 ibid.6 ibid.7 ibid.8 ibid.9 ibid.10 Wagner , 1912 apud REVISTA DE ARQUITECTURA, Navarra – RA, 1999, p.5511 WAGNER, 1912 apud BERNABEI, 1985, p.5512 WAGNER, 1912 apud BERNABEI, 1985, p. 5013 ibid.14 ibid.15 WAGNER, 1912 apud BERNABEI, 1985, p.50-5216 Wagner , 1912 apud REVISTA DE ARQUITECTURA, Navarra – RA, 1999, p.5717 WAGNER, 1912 apud BERNABEI, 1985, p.5318 WAGNER, 1912 apud BERNABEI, 1985, p.5419 WAGNER, apud LUQUE, p. 5820 RA, 1999, p.6121 ibid.22 ibid.23 COSTA, L, 1967, p. 30324 NOVACAP, apud HOLSTON, J. et al., p. 16125 WAGNER, 1912 apud BERNABEI, 1985, p.51 NOBRE, A.; KAMITA, J.; LEONÍDIO, O.; CONDURU, R. (Orgs.). Lúcio Costa: um modo de ser moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2004, p. 330)HALL, P. Cidades do amanhã: uma história intelectual do planejamento e do projeto urbanos no século XX. São Paulo: Perspectiva, 2002, p. 578BERNABEI, G. Otto Wagner. Barcelona: Gustavo Gili, 1984, p. 219COSTA, L. Lúcio Costa: registro de uma vivência. – São Paulo: Empresa das Artes, 1995, p. 608REVISTA DE ARQUITECTURA. Navarra: Servicio Publicaciones Universidad de Navarra, v. 3, nov. 1999. 115 p.
Comparações urbanísticas: Brasília e Grossstadt
O ponto principal deste trabalho, a comparação entre o urbanismo de Otto Wagner e o de Lúcio Costa, será realizada a partir de dados, trechos contidos na bibliografia das obras compostas por eles. Ambos tiveram vital importância para o urbanismo, um por ser um dos criadores, um homem avant la lettre, outro por conseguir colocar em prática o urbanismo modernista em um curto prazo e sem referenciais anteriores nesse país, a partir de um “x” demarcado no chão.
As comparações que se realizarão entre eles não busca depreciar um ou outro urbanista, mas sim analisá-los em suas qualificações.
Já no início do texto relacionado a Otto Wagner e a Grossstadt pode-se começar a perceber as diferenças aparentes entre a cidade planejada por ele e a por Lúcio Costa. Isso ocorre quando Costa não pensa claramente no desenvolvimento futuro da sua cidade, se ela cresceria até determinada quantidade de habitantes ou se teria de se manter intacta no tempo:
“Normalmente, urbanizar consiste em criar condições para que a cidade aconteça, com o tempo e o elemento surpresa intervindo; ao passo que em Brasília tratava-se de tomar posse do lugar e de lhe impor – à maneira dos conquistadores ou de Luis XIV- uma estrutura urbana capaz de permitir, num curto lapso de tempo, a instalação de uma Capital”.23
Para Wagner isso não poderia ocorrer, deixar um crescimento de uma cidade aberta à população sem que haja um planejamento prévio poderia causar o caos logo que futuramente não seriam possíveis as construções dos equipamentos urbanos, ruas na largura necessária para que o trânsito flua e até mesmo manter as condições higiênicas.
Wagner também busca relacionar a parte antiga da cidade com a nova a ser construída, a coesão com a arte existente e a que pode vir a ser fabricada. Costa, sem exemplares antecedentes desse tipo de construção no país e com a construção a ser realizada em uma área limpa, sem nenhum tipo de identificação artística ou estilística a ser adotada, brinca com três tipos de escalas diferentes para a cidade a monumental, a residencial e a concentrada. A sua cidade desenvolve-se mais no sentido longitudinal, a partir dos eixos principais, quase que no formato triangular. Já a Grossstadt se desenvolve radialmente em relação ao centro.
O trânsito é um dos fatores que dão essa forma às cidades analisadas: para Brasília as linhas formadoras do traçado original servem como vias de trânsito rápido e as demais vias para escoamento do tráfego elas. Essa distribuição do tráfego determinou a composição da cidade, onde cada área foi implantada pensando na quantidade de fluxo gerado. Já os novos distritos da metrópole de Wagner são delimitados por ruas radiais (zonais) com uma distância de 2 a 3 quilômetros entre cada uma.
No plano da setorização das cidades, nos distritos da Grossstadt, ocorreria a distribuição segundo a profissão, o modo de vida e a distinção entre distritos comerciais e industriais, sem que eles fiquem isolados uns dos outros, além da distribuição homogênea dos equipamentos urbanos entre eles. Em Brasília essa estruturação da cidade se faz através dos eixos principais. Por ser bastante setorizada é possível identificar claramente as áreas destinadas a cada uma das atividades da cidade, inclusive o setor político.
A partir dessa setorização podemos analisar as residências, sendo necessários os dois fragmentos de texto relacionados ás duas cidades estudadas:
“Os blocos de apartamentos de uma superquadra básica são todos iguais: a mesma altura, as mesmas facilidades, todos construídos sobre pilotis, todos dotados de garagem e construídos com o mesmo material, o que evita a odiosa diferenciação de classes sociais, isto é, todas as famílias vivem em comum o alto funcionário, o médio e o pequeno. Quanto aos apartamentos há uns maiores e outros menores em número de cômodos, que são distribuídos (...) para famílias conforme o número de dependentes.” 24
“ [...] não podemos admitir que determinados distritos se destinem unicamente a uma finalidade particular, uma vez que operários, empregados de alto e baixo nível, funcionários estatais, etc. querem e devem viver em zonas determinadas [...]”25
Como se pode constatar os arquitetos divergem em relação a setorização da cidade, a estratificação ou não da mesma. Brasília busca o ideal da cidade onde a ausência de classes não seria tão exposta, enquanto Wagner propor o oposto. O tipo ideal de habitação não é possível identificar-se, logo que nenhum dos casos foi implementado, já que em Brasília a busca por recursos que financiassem a sua construção acabou por impedir a não estratificação da sociedade pelas quadras terem sido vendidas. Entretanto, a verticalidade das construções une as duas propostas. Wagner busca a manutenção da densidade enquanto Costa, obedecendo aos princípios da Ville radieuse de Le Corbusier, também constrói verticalmente para controle da densidade, mas principalmente para melhorar a circulação de transeuntes e aumentar a quantidade de áreas livres.
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