O ponto principal deste trabalho, a comparação entre o urbanismo de Otto Wagner e o de Lúcio Costa, será realizada a partir de dados, trechos contidos na bibliografia das obras compostas por eles. Ambos tiveram vital importância para o urbanismo, um por ser um dos criadores, um homem avant la lettre, outro por conseguir colocar em prática o urbanismo modernista em um curto prazo e sem referenciais anteriores nesse país, a partir de um “x” demarcado no chão.
As comparações que se realizarão entre eles não busca depreciar um ou outro urbanista, mas sim analisá-los em suas qualificações.
Já no início do texto relacionado a Otto Wagner e a Grossstadt pode-se começar a perceber as diferenças aparentes entre a cidade planejada por ele e a por Lúcio Costa. Isso ocorre quando Costa não pensa claramente no desenvolvimento futuro da sua cidade, se ela cresceria até determinada quantidade de habitantes ou se teria de se manter intacta no tempo:
“Normalmente, urbanizar consiste em criar condições para que a cidade aconteça, com o tempo e o elemento surpresa intervindo; ao passo que em Brasília tratava-se de tomar posse do lugar e de lhe impor – à maneira dos conquistadores ou de Luis XIV- uma estrutura urbana capaz de permitir, num curto lapso de tempo, a instalação de uma Capital”.23
Para Wagner isso não poderia ocorrer, deixar um crescimento de uma cidade aberta à população sem que haja um planejamento prévio poderia causar o caos logo que futuramente não seriam possíveis as construções dos equipamentos urbanos, ruas na largura necessária para que o trânsito flua e até mesmo manter as condições higiênicas.
Wagner também busca relacionar a parte antiga da cidade com a nova a ser construída, a coesão com a arte existente e a que pode vir a ser fabricada. Costa, sem exemplares antecedentes desse tipo de construção no país e com a construção a ser realizada em uma área limpa, sem nenhum tipo de identificação artística ou estilística a ser adotada, brinca com três tipos de escalas diferentes para a cidade a monumental, a residencial e a concentrada. A sua cidade desenvolve-se mais no sentido longitudinal, a partir dos eixos principais, quase que no formato triangular. Já a Grossstadt se desenvolve radialmente em relação ao centro.
O trânsito é um dos fatores que dão essa forma às cidades analisadas: para Brasília as linhas formadoras do traçado original servem como vias de trânsito rápido e as demais vias para escoamento do tráfego elas. Essa distribuição do tráfego determinou a composição da cidade, onde cada área foi implantada pensando na quantidade de fluxo gerado. Já os novos distritos da metrópole de Wagner são delimitados por ruas radiais (zonais) com uma distância de 2 a 3 quilômetros entre cada uma.
No plano da setorização das cidades, nos distritos da Grossstadt, ocorreria a distribuição segundo a profissão, o modo de vida e a distinção entre distritos comerciais e industriais, sem que eles fiquem isolados uns dos outros, além da distribuição homogênea dos equipamentos urbanos entre eles. Em Brasília essa estruturação da cidade se faz através dos eixos principais. Por ser bastante setorizada é possível identificar claramente as áreas destinadas a cada uma das atividades da cidade, inclusive o setor político.
A partir dessa setorização podemos analisar as residências, sendo necessários os dois fragmentos de texto relacionados ás duas cidades estudadas:
“Os blocos de apartamentos de uma superquadra básica são todos iguais: a mesma altura, as mesmas facilidades, todos construídos sobre pilotis, todos dotados de garagem e construídos com o mesmo material, o que evita a odiosa diferenciação de classes sociais, isto é, todas as famílias vivem em comum o alto funcionário, o médio e o pequeno. Quanto aos apartamentos há uns maiores e outros menores em número de cômodos, que são distribuídos (...) para famílias conforme o número de dependentes.” 24
“ [...] não podemos admitir que determinados distritos se destinem unicamente a uma finalidade particular, uma vez que operários, empregados de alto e baixo nível, funcionários estatais, etc. querem e devem viver em zonas determinadas [...]”25
Como se pode constatar os arquitetos divergem em relação a setorização da cidade, a estratificação ou não da mesma. Brasília busca o ideal da cidade onde a ausência de classes não seria tão exposta, enquanto Wagner propor o oposto. O tipo ideal de habitação não é possível identificar-se, logo que nenhum dos casos foi implementado, já que em Brasília a busca por recursos que financiassem a sua construção acabou por impedir a não estratificação da sociedade pelas quadras terem sido vendidas. Entretanto, a verticalidade das construções une as duas propostas. Wagner busca a manutenção da densidade enquanto Costa, obedecendo aos princípios da Ville radieuse de Le Corbusier, também constrói verticalmente para controle da densidade, mas principalmente para melhorar a circulação de transeuntes e aumentar a quantidade de áreas livres.
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