O esqueleto da metrópole deveria ser “[...] constituído pelas linhas de tráfego existentes, pelos rios, pelos pequenos lagos, pelas enseadas, pela topografia, etc. A planificação de uma Grossstadt, como já foi dito, só pode realizar-se por meio dum sistema. Este sistema, por natureza, divide-se em duas partes: 1) a ordenação da parte antiga, isto é, da parte existente da cidade; 2) planificação da parte futura, isto é, da expansão indefinida da cidade.” 12. Com respeito à parte velha Wagner declara a necessidade de “conservar e valorizar a estética existente, favorecendo ao máximo o enquadramento urbano” 13 essa preservação necessita de atender ao trânsito, à higiene, às propriedades privadas, ao estado de conservação da construção, às condições sociais e econômicas, etc. Para isso as decisões serão tomadas a partir da análise individual de cada caso e, se pensa-se em modificar a estética existente, será necessário formular um julgamento artístico ponderado. Já a parte nova da cidade “pode, e deve ser enquadrada em um sistema para evitar que os eventos futuros ponham à administração municipal de frente do fatídico ‘tarde demais’. Tal sistema compreenderá: uma programação generosa da maneira de morar e de viver dos habitantes futuros, a possibilidade de incluir estruturas hoje ainda desconhecidas, a previsão de válvulas de segurança para a expansão da Grossstadt e, não último lugar, seu aperfeiçoamento estético.” 14 Nos estudos sobre a parte nova da cidade o arquiteto prevê a necessidade de futuro crescimento da cidade que, segundo suas análises, deveria duplicar sua população em 30 ou 50 anos. Com esse crescimento da cidade ele recomenda que as residências, os edifícios públicos e os equipamentos urbanos estejam situados nos seus devidos lugares desde o início do desenvolvimento da cidade ou se teria o caos, recomenda ainda a subdivisão da Grossstadt em distritos para uma melhor administração. Essa subdivisão seria “[...] segundo os critérios da profissão (Escolas Superiores), do modo de vida, que se tenham em conta os ventos dominantes e que se mantenha a distribuição entre distritos comerciais e industriais; por outro lado, não podemos admitir que determinados distritos se destinem unicamente a uma finalidade particular, uma vez que operários, empregados de alto e baixo nível, funcionários estatais, etc. querem e devem viver em zonas determinadas; no entanto, certos elementos, como, por exemplo, os parques, os jardins, as zonas desportivas, as escolas, as igrejas, as artérias de trânsito, os mercados, os escritórios públicos [...] devem distribuir-se mais ou menos por todos os distritos, ainda que seja só pelo fato de que existe um determinado número de edifícios públicos cuja utilização muito dificilmente pode ser prevista para um prazo superior aos cem anos; portanto, os futuros edifícios destinados a estas finalidades deverão levantar-se só nos novos distritos” 15 Os distritos deverão se localizar radialmente a centro urbano, e deverão possuir o limite de 100 a 150 mil habitantes em uma superfície de 500 a 1000 hectares. Esses distritos serão determinados pelas ruas zonais que devem distanciar-se de 2 a 3 Km uma das outras. Em relação a disposição dos distritos em torno do centro da Grossstadt se deve considerar as condições topográficas existentes e as rotas do acesso à cidade. Em todos os casos Wagner apresenta a metrópole como expansível indefinidamente, do ponto de vista artístico; se houver as razões que recomendam pôr um limite a esse crescimento se tratará de razões técnicas, mas a arquitetura proposta para a metrópole, não exige nenhuma limitação de espaço: os distritos aparecem como um mecanismo de subdivisão da totalidade que inclui simultaneamente a possibilidade de uma adição ilimitada.
Conseqüentemente, Wagner passa a definir esses distritos; primeiro se refere a sua população que situa entre os 100 e 150.000 habitantes, correspondendo a eles uma superfície de 500 a 1.000 Ha. O arquiteto sugere rodear o centro da cidade de ruas zonais (Zonenstrasse) como umas circunferências concêntricas a uma distância de aproximadamente 2 ou 3 quilômetros; nas zonas limitadas estariam incluindo os distritos. Os distritos, que fossem sendo construídos “nos intervalos predeterminados de acordo com um projeto bem calculado, terminarão por formar um grupo de cidades pequenas dispostas em torno do centro” 16 conseqüentemente cada distrito teria parques correspondentes e espaços livres. Esses espaços livres apareceriam em forma de parques, jardins e zonas desportivas, como centros de ar, em vez de cinturões dispostos ao redor da cidade que tornam a circulação rígida, incompatível com esse modelo de cidade. Ele propõe ainda que a altura dos edifícios isolados seja de 23 metros, sem ter em conta o piso da cobertura. Para as ruas se prevê uma largura mínima de 23 metros. A disposição de cada distrito deve ser pensada antes que as primeiras edificações sejam construídas para que essas não interfiram na planificação da cidade, do ponto de vista tanto de trânsito quanto higiênico. Desse modo seriam possíveis quadros urbanos belos e que se adéquam à sua finalidade, que “representarão para as futuras gerações uma ininterrupta história plástica da arte, excluindo-se, desta forma, tudo o que é feito em série” 17. Uma importante questão para o conjunto da Grossstadt é assegurar um tráfego rápido de modo que “o trânsito flua veloz e se desenvolva o trânsito zonal e o trânsito pendular nas ruas radiais, para que qualquer ponto da cidade possa alcançar-se mudando uma só vez de meio de transporte ...” 18 . Para tanto, utilizar-se-ia linhas férreas elevadas e subterrâneas e carros elétricos. Já em relação ao plano econômico, para as propostas de Wagner grandes gastos seriam gerados para que a Grossstadt seja esse ideal de arte, beleza e urbanismo idealizado por Wagner. Buscando um modo de encontrar fontes econômicas que cubram esses gastos ele analisa algumas cidades alemãs que tinham utilizado taxas no ganho das terras e através delas possuíam meios de garantir obras urbanísticas e aquisições de lotes para equipamentos. A partir dessa solução, Wagner propõe algo mais ambicioso: o município adquire a área dos lotes vizinhos das regiões metropolitanas que ainda não foram ou que foram pouco edificados. Posteriormente, quando a Grossstadt se desenvolver até essas regiões, o município vende esses lotes para particulares obtendo ganhos a serem utilizados nas melhorias urbanas, nas aquisições de lotes para os equipamentos e de lotes para continuar esse processo. Ainda com esse mecanismo ele acredita que poderia impedir a especulação imobiliária e canalizar e controlar o desenvolvimento urbano. Através desse controle os administradores urbanos poderiam controlar o desenvolvimento da cidade e fazer com que crescesse de modo adequado sem que houvesse o “tarde demais” termo tão inadmissível para Wagner. Tudo deve ser previsto e analisado antes que a população chegue em massa para determinada área pois se o contrário acontecer, se deixar-se o desenvolvimento à cega casualidade e ausência da arte os danos seriam irreparáveis e poderia estabelecer-se o caos. “Os representantes da Grossstadt devem recordar que poderão conseguir que sua cidade ‘seja o lugar da alegria diária de uma população de milhões de habitantes somente se é também bela, coisa que, não obstante, pode somente ser obtida com a arte’” 19.
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