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Otto Wagner e a Grossstadt
“se não se ordena o desenvolvimento urbano, o crescimento da cidade se virá forçado pela configuração atual do campo (plantações, rios, a topografia), [...] aonde iria parar, então, a imagem da cidade que se espera e a que se tem? onde seriam localizados os edifícios públicos, os espaços livres, as vistas; como se alcançaria para fornecer boas comunicações do tráfego, traçados funcionais e economicamente convenientes para a futura edificação urbana e, em fim, uma expansão ordenada da Grossstadt, as coisas todas de que não é possível prescindir?” ¹
Otto Wagner nasceu em Penzing, em 1841, e teve formação no Bauakademie de Berlim e no Akademie der bildenden Künste de Viena. Em 1895 é convidado para ocupar a cadeira da Academia de Belas Artes de Viena e escreve parte de Modern Architektur, seu mais famoso ensaio e que já analisava a resposta da arquitetura à Grossstadt, a metrópole.
Elabora em 1982-83 o seu Plano de Viena, em resposta ao concurso para o Plano Regulador de Viena, e possui a oportunidade de elaborar de modo gráfico a sua idéia de Grossstadt. Com essa proposta obteve em 1983 o primeiro lugar no concurso. Com a vitória foi contratado como acessor artístico do projeto do metrô feito em Viena de 1894 a 1901. Nele Wagner não se encarrega apenas dos aspectos arquitetônicos das obras subterrâneas, dos edifícios das estações, das principais pontes e equipamentos, mas também propõe adotar um conjunto urbano com o caráter e a personalidade adequados àqueles tempos.
Wagner sempre afirma a unidade das artes: “torna-se difícil falar da arte no plural, porque somente existe uma arte”. E analisa não só o projeto do edifício, mas também considera a sua dimensão urbana e a sua incidência na cidade.
Em 1910 ocorre o International Congress of Municipal Arts de Nova York, a chance de apresentar as suas análises da Grossstadt. Tomando como base o seu Plano de Viena ele oferece de maneira sintética sua visão do que deve ser um plano regularizador de uma metrópole. Ainda demoraria bastante tempo para que Hilberseimer e Le Corbusier apresentassem suas propostas e Wagner já apresentava uma proposta ambiciosa para a resolução dos problemas da metrópole.
Sua proposta pode ser explicada por duas circunstâncias: o momento em que atravessa o processo formador do urbanismo e a operação renovadora da arquitetura de Wagner. O processo formador do urbanismo “se difunde e começa a necessitar o instrumento do zoning, torna-se ciente da necessidade de antecipar equipamentos e áreas livres, começam o conceituação dos sistemas urbanos, etc. Mas ao mesmo tempo, os arquitetos conseguem assumir um papel relevante, competindo com os engenheiros, e ainda adotando as atribuições daquele que, de alguma maneira, tinham-nas sido atribuídas pela sociedade” ².
Analisando o seu pensamento se destaca a sua “influência semperiana bem presente no seu lema ‘artis sola domina necessitas’, a necessidade, única proprietária da arte; conseqüentemente ‘a primeira condição para alcançar uma solução boa é a concordância entre a arte e a finalidade’” ³.
A Conferência em Washington transformou-se na oportunidade de apresentar de um modo programático sua proposta geral para a Grossstadt, sistematizando de seu Modern Architektur. Reproduz parágrafos de sua teste de 1896, ao mesmo tempo em que as reflexões preparadas para sua conferência americana, dão lugar a diversos extras na última edição (1914) de Modern Architektur.
Embora o texto seja as análises realizadas para o Plano de Viena, desde o começo se deixa claro que se deseja tratar da maneira genérica a Grossstadt (a metrópole). Sua proposta “se separa tanto do radicalismo da vanguarda como do conservadorismo dos historiadores” 4 e, ainda, “a solução do problema consiste, antes de tudo, em alcançar o alvo geral, e na tentativa de alcançar tal alvo, tudo o que se faz deve estar consagrado à arte” 5, sendo que a arte “tem que adaptar a atmosfera urbana ao homem que neste preciso momento habita”. 6
A adaptação proposta por Wagner às características do tempo em que se habita determina a necessidade de casas saudáveis e econômicas o que levará a uma uniformidade nas moradias e, também as razões econômicas recomendarão a construção vertical. A resolução dessas necessidades levará a ruas de traçados longos e uniformes, sendo que a uniformidade deverá ser transformada pela arte em monumentalidade, “quando a arte intervém corretamente nestes casos não se trata nunca de uma cidade feita em série. Isto acontece somente quando se impede a arte de atuar” .7
Ainda na concepção da metrópole, Wagner 8 acredita que o que influencia mais – afirma - na imagem de uma cidade é sua aparência, esta tem a difícil atribuição de causar a primeira impressão, que há de ser a mais agradável possível. Sua visão dessa cidade é:
“A corrente ininterrupta de uma rua radial flanqueada por belos negócios (...), cruzada apressadamente pela multidão, outras ruas adaptadas ao passeio comum e que satisfazem aos transeuntes pela oportunidade de verificar as possibilidades de cabem em seu bolso ou espiar sobre o luxo, um determinado número de restaurantes belos e bons que coincidem a satisfação física e a calma, as praças que oferecem surpreendentemente ao espectador arquiteturas e monumentos de notável nível artístico, e tantas outras coisas: são estes elementos, em primeiro lugar, aqueles que dão à cidade uma aparência acolhedora.”
Wagner participou da Secessão, mas a insistência na atenção das necessidades, a busca da ordenação que responda à finalidade da cidade, conecta-lhe com o Werkbund e com o racionalismo alemão. “Quanto mais responda uma Grossstadt a sua finalidade, quanto maior será o conforto que oferece quanto mais se concede a palavra à arte, tanto mais formosa será a cidade. Seu aspecto bonito, sua cuidada limpeza, são componentes essenciais da arte urbanista. A administração publica deve levar isto em conta.” 9. Essa idéia da exclusão da arte do desenvolvimento da cidade deu-se através de argumentos econômicos.
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